O técnico da seleção brasileira masculina de futebol, Tite, afirmou durante coletiva de imprensa a existência de preconceito contra técnicos negros. O comentário segue a fala de Marcão, técnico do Fluminense, e único treinador negro do Brasileirão.
“Há sim um preconceito estrutural. O que posso dizer é que tenho um respeito muito grande. Um dos principais atletas que já trabalhei chama-se Roger Machado. Pela conduta, momentos bons e difíceis. Devemos lutar contra sim, pois há um preconceito em relação ao técnico negro”, disse Tite.
O auxiliar César Sampaio que também esteve na coletiva, se disse muito feliz de ocupar seu espaço, mas que durante um longo período, certos espaços e direitos foram negados à população negra. “A globalização trouxe à tona com alguns absurdos. Me sinto muito feliz de ocupar este espaço e capaz de estar aqui. Falo para a classe negra em geral que eles possam lutar. Sou um defensor de que esse espaço aqui não tenha cor, mas que todo capaz possa ocupar”, afirmou.
As opiniões buscadas tomam lugar na fala de Marcão à Folha de São Paulo, no último final de semana, quando o técnico questionou a falta de outros treinadores negros e a relacionou à um preconceito estrutural existente. “Vejo vários treinadores que são negros, altamente capacitados, sem oportunidade ou que não recebem a chance que muitos têm”, lamentou.
“Por que isso acontece? Por que somos negros? […] Esses detalhes que percebemos deixam claro que há uma resistência (contra técnicos negros), mas meu clube é exemplo, luta contra isso”, disse Marcão.
O Brasil, apesar de constituído por mais de 50% de pessoas pardas ou negras, apresenta dados que representam um racismo inegável e estrutural: negros têm 2,6x mais chances de serem mortos que não negros, o salário médio de trabalhadores negros em 2020 foi 45% menor que de trabalhadores brancos, e ainda, a população negra é a que mais sofre com desemprego no país. O mundo futebolístico, no momento, representa um recorte do que é uma triste realidade.